Se eu fechar meus olhos...

By m.regina
Lançarei-me sobre este profundo abismo como pluma, ao vento planando sorrisos. Dançarei à sorte do hálito dos pagãos, em cegas piruetas dançarei! Eterna e tão breve como o acaso...
Se eu fechar meus olhos, loucamente prenderei-os numa torre, tateando o raro orvalho das rochas frias. Mera e incoerente, verei-os caçar o canto das borboletas fantasmas! Mas por muito, como sei! Não poderei detê-los...
Mesmo se eu fechar meus olhos, não saberei os trancar, pois eles eles pertencem ao mundo e sempre irão me escapar.
Mesmo assim fecho meus olhos, esquivando-me da minha razão. Sem sentido sem propósito, farei-o sim e farei-o de novo! Tantas e tantas vezes ao dia. A buscar no instante interno, a beleza que nutri meu viver.
Se eu fechar meus olhos, sei bem que tornarão a me deixar, contudo isso não me consome, pois antes do meu ar acabar, também sei que irão voltar. A dançar e sonhar e sonhar.
Pois apenas fechando meus olhos, me encontro no contemplar, da avidez da minha alma, a verdadeira beleza que alegra meu olhar.

 

Vida Eterna.

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Pense sobre o seu passado, tente integrar ele ao seu presente, como fator presente dentro de você, como página de uma história que é infinitamente re-lida.

Existe um homem que conseguiu se dividir em dois. Ele então fugiu para ponto mais isolado do mundo e começou a escrever sua história, ao mesmo tempo que a lia.

Este homem buscava com isso dominar o tempo e viver para sempre.

Assim, quando já estava bem velho e cansado, sonhou que era jovem novamente, e então dividiu-se em três.

Cada um decidiu viver sua vida de um modo diferente, e o homem velho que dormia morreu.

Sua história estará para sempre perdida nas profundezas do tempo que ele não soube abarcar.
 

(...)

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Minha mente é um labirinto sem luz alguma onde as paredes conversam sobre aqueles que lá se perderam.
 

A MOÇA MAIS BELA

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O que já não fiz outrora
Para mostrar, para provar de verdade
A aquele lindo olhar que chora
Como pode ser a eternidade
No amor que em meu peito mora!

E que somente nela, e para ela demora.

E eu faria com tanto gosto!
Mesmo se não chegasse a lhe ter,
Eu daria para essa moça
Um espelho que a fizesse crer, que a fizesse ver
A trouxesse para minha realidade

De tão simples felicidade.

E mesmo que para outra enamorada
O seu lindo olhar pouse por azar
Eu já me sentiria afortunada
Se pudesse enxergar, ainda que da sacada.
O sorriso lindo da moça mais bela.

Ah, como queria mostrar a ela!
 

FIM DE NOITE

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Você se lembra e se pergunta
E agora? Que faço eu sem paixão?
Pensa no que escreve. No que diz
Não haveria mais o que expressar,
Acabou de vomitar
Nada mais para sair, ou mostrar
Então agora, você pensa: o que será?

Pega o caderno e ganha o luar
Procura em cada canto inspiração
Procura outra emoção. Mas pra que?
Aconteceu mas ninguém viu,
Que se foi e não se despediu.
“E agora meu Deus, que faço eu sem paixão?”

Chega em casa com anotados
Nada certo. Zero de sentido
Está perdido, sem direção
Isolado em seu coração
Tão grande e agora vago, vazio
Você não se encontra, pensa que sumiu
E como escrever assim, se pergunta
O que, como, onde, por qual razão?
Que resta da vida sem paixão?

Deita na sua cama e dorme
Esquece do tormento
Sonha ou não sonha, nem sabe se recorda
Mas acorda sem palavras, em um pulo explode!
Olha o relógio e se assusta!
Está atrasado, precisa correr
Já é segunda, não há mais tempo
Você deixa o caderno na mesa e mergulha
Está atrasado para o encontro
Com seu novo entretenimento.
 

ROS’AMAR

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Mas como ele queria!
O fechar de olhos do sonhar
Onde sem planejar ele iria,
Sua querida flor encontrar.

Amaria tanto assim se fosse...
E seria! Fosse sono, fosse mar
Mas resta apenas noite fria!
E na insônia choraria
o pranto de muito amar.

Mas pensaria que noite tornaria
Sorriso daria em seu rosto molhar
Ele pensa o quanto aqui seria
Em perfume de toda sua ros’amar.

Pois a dor que há a cantar
Tão é que só por FIM se acabaria
Se dormir, fosse não mais despertar
Para que a bela rosa que ele amaria
Ainda pura rosa restasse em seu altar.
 

Na pensão - pequeno conto.

By m.regina
Aqui há um quarto pequeno. Paredes azuis e sujas, um homem sentado em um canto, uma cama, janelas fechadas. Alem mais uma escrivaninha vazia e um armário. Há manchas nas paredes. Sons e luzes de fora adentram pelas frestas horizontais da janela, deixando trilas na poeira visível que paira suspensa. O homem está sentado no chão, segurando os joelhos e virado para a parede entre a janela e a escrivaninha. Ele não parece nada bem, murmura coisas sem sentido sobre caixas e escrever. Não há muito mais para ver. Passam-se doze minutos.

O homem dá um tranco forte com a cabeça para o lado, nada mais mudou desde então. Seu rosto é cansado com olhos loucamente lúcidos, seus lábios se movem rapidamente enquanto resmunga da luminosidade. Ele olha para cima. De cima o cômodo é um quadrado quase perfeito, com uma porta na parte anterior da aresta vertical esquerda, uma escrivaninha intermediando esta mesma aresta e o homem, na outra ponta. Na aresta vertical direita, o armário que dá frente à porta e uma cama pequena à escrivaninha e ao homem, que levanta-se lentamente. A aresta horizontal posterior é onde existe a janela, grande e ocupando o lugar central, em baixo dela um baú. Na outra aresta não havia nada alem de uns quadros velhos e sem importância. As paredes eram azuis claras e o teto azul escuro, com uma lâmpada pendurada bem lá no alto.

O homem caminha até a janela, suas roupas são curtas. Inclinando a cabeça o homem espia para o lado de fora por uma fresta. A luz ilumina com uma facha seus olhos e outra seus lábios fechados. Está muito frio. A luz que vem de fora é mecânica, assim como os sons, na escrivaninha tem um relógio que mostra oito e catorze, mas ele não se move mais. Depois de poucos minutos o homem começa a murmurar outra vez, desinclinando-se e dando as costas para a janela, ele sacode a cabeça e abraça o próprio corpo fazendo movimentos de fricção para cima e para baixo sobre os braços desnudos. Resmunga da temperatura e caminha em direção ao armário. Troca-se: Veste uma calça, uma blusa, um casaco, meias, um cachecol, um chapéu e sapatos. Pega um papel na escrivaninha e sai. Passam-se quatro horas e vinte e sete minutos até que alguém entre no quarto novamente.

Os sons e a luz do ambiente haviam mudado quando a mulher entrou. Mecanicamente caminhou direto em direção a cama, que pôs-se a esticar, depois para a escrivaninha e em seguida abriu a janela. Luz natural entrou e dançou em piruetas com a poeira que o movimento perturbou. A mulher tossiu um pouco e saiu do quarto, apenas para pegar um aspirador de pó e logo estava de volta. Era uma mulher jovem e vestia roupas largas e claras, apertadas por um avental na cintura, usava os cabelos claros presos em uma trança e tinha vários panos sobre os ombros. Pegando um deles rapidamente ela abafa um espirro, e depois outro. Resmunga sobre a poeira que o metrô trás e liga a maquina na tomada, que em seguida começa a fazer um barulho estrondoso perto do quase silencio que havia no quarto. Ela então começa a passar a cabeça do aspirador pelo chão e em cima e em baixo dos moveis, depois disso vai embora batendo a porta. O quarto está vazio e silencioso novamente, um avião passa e faz barulho, somando com o canto de algum passarinho que empoleiro-se em algum lugar nas proximidades.

O sol corre no lado de fora, passam-se dois dias até que quando a luz que entra pela janela aberta se torna avermelhada, o homem entra pela porta. Com ele uma maleta. Joga a mala no canto entre a escrivaninha e o baú violentamente, então senta-se na cama. De repente ele grita. Mas para logo, tapando a boca com ambas as mãos. Seus olhos bem abertos começam a brilhar de um jeito frio, as mãos sobem para a testa e seus cotovelos descem até os joelhos. Curvando o tronco para frente, o homem chora. Lentamente se levanta e fecha a janela, porem sem deixar de exitar por alguns instantes. Ele caminha arrastado até o armário, onde delicadamente guarda as roupas que tira, até ficar completamente nu.

Choramingando ele caminha olhando para seus pés até o canto superior esquerdo do quadrado. Chegando lá, inclina lentamente apoiando pela cabeça na intersecção das duas paredes o peso do corpo. Sua boca fechada emite um som agudo e inconstante, semelhante a um uivo abafado. Lágrimas caem sobre a maleta sem produzir som. Começa a esfriar novamente.

Passam-se quarenta e dois minutos sem movimento. Mas silencio. O homem não chorava mais. As luzes mecânicas voltaram, tal como os barulhos e a poeira, tudo igual. Finalmente ele se meche, senta-se no baú de costas para a janela. Seus lábios se movem
novamente, mas se nenhum som. Outro espasmo, acompanhado de uma exclamação gritada. Silêncio, ninguém responde.

Ele olha para o armário enquanto fala. Na porta, um espelho de corpo reflete a outra porta.Tudo está no lugar. E grita.

O homem levanta e abre os braços olhando para cima. Um farol passa e desenha um cometa de poeira flamejante que corta o quarto. Ele então com os braços abertos girando e clamando. Nenhum tipo de reação a aqueles gritos mais que um eco distante ocorre; não há nada na completa inércia do quarto que não reafirme maior desolação. Ele baixa os braços, e caminha até a janela, abre-a. A luz e uma leve brisa inundam o quarto, barulhos de rua entram no quarto como se este tivesse entrado na rua. O metrô: Um buraco bem na frente da janela de onde pessoas entram e saem o tempo todo, freneticamente, como artérias de um coração com um ritmo eterno.

“Eu sei que você me escuta.” Murmura o homem. Suas mãos repousam sobre o parapeito da janela enquanto seus olhos pousam sobre o viaduto ruidoso a andares de distancia. Ele mal vê as pessoas, mas o som trás o pior de seus existirem plurais para a cabeça do homem, que começa lentamente a serrar os punhos. Uma música toca distante, a ponto de só ser possível ouvir as notas graves do baixo, e ele sorri grato por isso. Dá um passo para trás, e mergulha na garganta da noite.

Passaram-se várias horas até que alguém mais uma vez entrasse no quarto. A mesma mulher de antes. Entra, e executa a exata sequência de movimentos da ultima vez, sem ter conhecimento do ocorrido anterior. Contudo desta vez organiza a escrivaninha. Não havia nenhuma carta ou bilhete lá. Nenhum diário. Apenas folhas em branco, que empilhara antes de sair.